Não, não é um projeto de teste de qualidade de colchões criado por um dorminhoco. Nem um desafio contra o relógio para avaliar quem troca mais fraldas, prepara mamadeiras e alimenta bebês, obedecendo à regra de executar todas as etapas sempre com muita ternura.
É, sim, um exemplo de economia circular e de evolução industrial já aplicada há alguns anos. Vai além da alternativa do berço ao túmulo, na qual se baseia nossa lei de logística reversa para resíduos sólidos, ou seja, o produtor é responsável por toda a cadeia, desde o momento da extração da matéria prima até o momento em que o produto torna-se resíduo. Lei que demorou cerca de 19 anos para ser aprovada. Mas essa é uma outra história...
Simplesmente, o lixo, dentro de nossa concepção atual - materiais sólidos considerados inúteis, supérfluos ou perigosos, gerados pela atividade humana, e que devem ser descartados ou eliminados - , deixa de existir. Nada de pensar em fazer isso com aquela pessoa que não agrada muito a você, hem? Não vale para “gente”. Não, nem para “gentinha”.
De acordo com os autores, o designer e arquiteto americano William McDonough e o químico alemão Michael Braungart, lixo é igual a alimento. Calma, a ideia não é comermos nosso velho tênis acompanhado de borracha de pneu moída e salpicada com floquinhos de isopor. Trata-se do desenvolvimento de novas tecnologias, com as quais os materiais são reaproveitados ao máximo, com qualidade e fácil desmontagem e depois se deterioram e se transformam em alimento, para a terra, ou seja, adubo. A ideia abrange todos os produtos, desde os materiais de construção de uma casa a uma simples embalagem de sorvete. A dupla desenvolveu uma que ao descongelar torna-se líquida e ainda possui sementes. Volta para a terra e se completa o ciclo. Esta pode jogar no jardim!
Uma pode, a outra não...ambiguidades que confundem esta nossa geração de transição...
E de onde surgiu esta ideia? Da observação de uma velha, sábia e generosa senhora conhecida nossa, que devolve à natureza e a alimenta com gratidão, por tudo o que dela recebeu:
www.imoticon.com.br
A ÁRVORE
O modelo cradle to cradle, foi aplicado, inclusive, ao livro, Cradle to Cradle: Remaking the way we make things, lançado originalmente em 2002 pela North Point Press, confeccionado em papel sintético feito de resinas plásticas e fibras inorgânicas. É durável, à prova d’água e reciclável, um protótipo de nutriente do ciclo tecnológico.
Segue uma matéria sobre o assunto
Sandra San
=)
A Alternativa Berço-a-Berço
Publicado por Thiago Silvestre
em 5 de março, 2008
Imaginemos um mundo onde tudo que fazemos, usamos e consumimos nutre a natureza e a indústria – um mundo onde o crescimento é bom e a atividade humana gera uma pegada ecológica agradável e restauradora.
Embora isso possa parecer heresia para muitos no mundo do desenvolvimento sustentável, as qualidades destrutivas do sistema industrial moderno de berço-a-túmulo podem ser consideradas como resultado de um problema fundamental de planejamento, e não a conseqüência inevitável do consumo e da atividade econômica.
Efetivamente, o bom planejamento – o planejamento ético, baseado nas leis da natureza – pode transformar o fazer e consumir numa força regeneradora.
Efetivamente, o bom planejamento – o planejamento ético, baseado nas leis da natureza – pode transformar o fazer e consumir numa força regeneradora.
Esse novo conceito de planejamento – conhecido como berço-a-berço – vai além da modernização de sistemas industriais para redução dos seus efeitos danosos. Abordagens convencionais à sustentabilidade freqüentemente fazem do uso eficiente de energia e materiais seu objetivo final.
Embora possa ser uma estratégia útil de transição, tende a reduzir os impactos negativos sem transformar a atividade danosa. A reciclagem de carpetes, por exemplo, pode reduzir o consumo, porém, caso o forro contenha PVC, como a maioria dos forros de carpetes, o produto reciclado ainda está numa viagem só de ida para o aterro, onde se transforma em resíduo perigoso.
Embora possa ser uma estratégia útil de transição, tende a reduzir os impactos negativos sem transformar a atividade danosa. A reciclagem de carpetes, por exemplo, pode reduzir o consumo, porém, caso o forro contenha PVC, como a maioria dos forros de carpetes, o produto reciclado ainda está numa viagem só de ida para o aterro, onde se transforma em resíduo perigoso.
O planejamento berço-a-berço, por outro lado, oferece um arcabouço onde os ciclos efetivos e regenerativos da natureza proporcionam modelos para projetos humanos totalmente positivos. Dentro dessa estrutura podemos criar economias que purificam o ar, terra e água; que dependem da receita solar e não geram nenhum resíduo tóxico; que utilizam materiais seguros e sadios, reabastecendo o planeta e sendo eternamente reciclados, e que geram benefícios que realçam toda a forma de vida.
Ao longo da última década, a estrutura berço-a-berço evoluiu constantemente da teoria à prática. No mundo industrial, está se criando um novo conceito de materiais e de fluxos de materiais. Da mesma forma que ocorre no mundo natural, onde o “resíduo” de um organismo circula através de um ecossistema, proporcionando alimento para outras criaturas vivas, os materiais de berço a berço circulam em ciclos de laço fechado, fornecendo nutrientes para a natureza ou
indústria. Esse modelo reconhece dois metabolismos, dentro dos quais os materiais fluem como nutrientes sadios.
indústria. Esse modelo reconhece dois metabolismos, dentro dos quais os materiais fluem como nutrientes sadios.
Primeiro, os ciclos nutrientes da natureza constituem o metabolismo biológico. Materiais destinados a um fluxo ótimo no metabolismo biológico são nutrientes biológicos. Produtos concebidos com esses nutrientes, como embalagens biodegradáveis, são destinados a serem utilizados e devolvidos com segurança ao meio ambiente, para alimentar sistemas vivos. Segundo, o metabolismo técnico, destinado a refletir os ciclos berço-a-berço do planeta, é um sistema de laço fechado, em que recursos sintéticos e minerais de alta tecnologia, e valiosos – nutrientes técnicos – circulam num ciclo perpétuo de produção, recuperação e refabricação. Idealmente, todos os sistemas humanos que compõem o metabolismo técnico são movidos pela energia renovável do sol.
Nutrientes biológicos e técnicos já estão no mercado. O tecido de estufaria Climatex Lifecycle é uma mistura de lã livre de resíduos de pesticidas e rami cultivado organicamente, tingido e processado inteiramente com produtos químicos não-tóxicos. Todos seus insumos de produto e processo foram definidos e selecionados em função da segurança humana e ecológica, dentro do metabolismo biológico. Resultado: os retalhos do tecido são transformados em feltro e utilizados por clubes de jardim como matéria vegetal para cultivo de frutas e legumes, devolvendo os nutrientes biológicos do tecido ao solo.
Enquanto isso, a Honeywell está lançando uma fibra de carpete de alta qualidade chamada Zeftron Savant, feito da fibra de nylon 6, perpetuamente reciclável. Zeftron Savant foi projetada para ser recuperada e repolimerizada
– retornada a suas resinas constituintes – para transformar-se num novo material para novos carpetes. Na realidade, a Honeywell pode recuperar o velho e convencional nylon 6 e transformá-lo em Zeftron Savant, ou seja, uma
efetiva reciclagem “ascendente”, e não descendente”, de um material industrial. O nylon é “rematerializado”, e nãodesmaterializado – um produto verdadeiramente berço-a-berço.
– retornada a suas resinas constituintes – para transformar-se num novo material para novos carpetes. Na realidade, a Honeywell pode recuperar o velho e convencional nylon 6 e transformá-lo em Zeftron Savant, ou seja, uma
efetiva reciclagem “ascendente”, e não descendente”, de um material industrial. O nylon é “rematerializado”, e nãodesmaterializado – um produto verdadeiramente berço-a-berço.
Na indústria de carpetes comerciais, sistemas de recuperação de materiais estão proporcionando um modelo para o desenvolvimento de metabolismos técnicos.
A Shaw Industries, por exemplo, desenvolveu uma placa de carpete de nutriente técnico para seus clientes comerciais. A empresa garante que toda fibra de seus carpetes de nylon 6 será recebida de volta e retransformada em fibra de nylon 6 para carpete, e seu forro seguro de poliolefina retornado a forro seguro de poliolefina. Matéria- prima a matéria-prima.
Um ciclo de berço-a-berço. A placa de carpete de nutriente técnico da Shaw é concebida como um produto de serviço, um elemento-chave da estratégia berço-a-berço. Produtos de serviço são bens duráveis, como carpetes e lavadoras, projetados por seu fabricante para serem devolvidos e reutilizados.O produto presta um serviço ao cliente enquanto o fabricante mantém a propriedade dos bens materiais do produto. Ao fim de um determinado período de uso, o fabricante retoma o produto e reutiliza seus materiais em outro produto de alta qualidade.
Amplamente praticado, o conceito de produto de serviço pode mudar o estilo de consumo, à medida que os sistemas humanos movidos a energia renovável reutilizam materiais valiosos, através dos ciclos de vida de muitos produtos.
Em larga escala, esse conceito pode transformar a natureza das economias. Em Chicago, por exemplo, esses princípios são um referencial para os esforços do Prefeito Richard Daley de transformar a cidade na mais verde da América, um pólo de eficiência energética e fluxos benéficos de materiais.
Em larga escala, esse conceito pode transformar a natureza das economias. Em Chicago, por exemplo, esses princípios são um referencial para os esforços do Prefeito Richard Daley de transformar a cidade na mais verde da América, um pólo de eficiência energética e fluxos benéficos de materiais.
Numa economia berço-a-berço, as cidades são o lar e a fonte principais da nutrição técnica – o local onde metais são forjados, polímeros sintetizados e tratores, computadores e moinhos desenhados e fabricados. As cidades enviam esses materiais para o mundo, recebendo-os de volta à medida que transitam pelos ciclos de laço fechado. Enquanto isso, o campo pode ser considerado o lar do metabolismo biológico.Os materiais lá gerados – alimentos, madeiras, fibras – são criados por meio das interações da energia solar, solo e água e são a fonte da nutrição biológica das comunidades rurais e cidades vizinhas. Um dos papéis fundamentais das cidades nesse metabolismo é devolver a nutrição biológica de forma segura e sadia, digamos, como fertilizante limpo, ao solo rural. Esses fluxos de nutrientes e energia são os metabolismos duplos da cidade viva, a força motriz das economias vibrantes do futuro.
Mesmo nações grandes e influentes como a China adotaram estratégias berço-a-berço. Criado a partir de uma tradição de 4.000 anos de agricultura sustentável, o Vice-Ministro de Ciência e Tecnologia, Deng Nan, anunciou em setembro de 2002 que a China dará início ao desenvolvimento de indústrias e produtos com base em princípios berço-a-berço, através do Centro de Desenvolvimento Sustentável China–Estados Unidos. A China já está desenvolvendo uma vila berço-a-berço como também empreendimentos de energia solar e eólica.
A estratégia berço-a-berço revela nossos projetos como expressões encantadoras de criatividade, como sistemas de sustentação de vida em harmonia com os fluxos de energia, almas humanas e outros seres vivos. Quando isso tornar-se o símbolo das economias produtivas, o próprio consumo terá sido transformado.
Por: William McDonough e Michael Braungart, “The Extravagant Gesture: Nature, Design, and the Transformation of Human Industry”, em Schor and Taylor, op. cit., nota 11, pp. 16-18.